Essa é a parte 3 da história #12 intitulada “A Caverna” . Para quem ainda não leu as primeiras duas partes, segue os links:
É isso. Sem muita enrolação, seguimos pro show. Boa leitura!
Dia 2
- Wesley... acorda, Wesley...
- ooi... qual foi mano...
- Precisamos ir andando. Depois de um dia inteiro na caverna, onde encontramos um homem morrendo, pegamos a arma que estava com ele, ouvimos um casal brigando, era um tal de seu Carlos e dona Melissanthi... depois de eu ter ficado preso em uma armadilha... depois de você ter me resgatado... depois de perdermos a arma e não sabermos pra onde foi o casal... seguimos na direção da água que parecia correr atrás das paredes e andamos bastante... até que você dormiu. Está na hora de acordar e continuar andando. Ouve isso?
- que barulho é esse?
- é água! estamos perto da saída!
- MEU DEUS, NEM ACREDITO, FINALMENTE!!!
- Isso mesmo meu mano, te alevanta e vamo vazar daqui. Literalmente, talvez.
[ ... ]
- Não vou negar, essa é a fonte d'água mais bela que eu já vi em toda a minha vida
- Sim mano, eu não achei que fôssemos achá-la. É bela como a última torta de maçã que eu comi no café da manhã lá em casa.
- Beleza, banhados estamos. Bebemos água. Agora como vamos subir e sair dessa caverna?
- Wesley, vamos juntar pedra por pedra, como quando você me tirou daqueles cipós malditos. E depois vamos amarrar a ponta de uma pedra dessa num desses cipós, fazer uma lasca pontiaguda e usar como gancho, para irmos subindo até a saída. Saberemos que deu certo quando vermos a luz do sol.
- Genial. Canivete?
- Sim, saque seu canivete. Vamos precisar.
[ ... ]
- AAAAAAAAAAAAHHH meu Deus, o sol, a grama, a luz!!!
- A terra molhada meu amigo!! haahaha, a terra molhada e o som das árvores ventando nas nossas cabeças!!!
Jovens... vejo que estavam perdidos na caverna. Como saíram de lá?
- eita porra, quem disse isso?
- ali Robson, aquela senhora. embaixo da árvore.
- Olá!! Quem é você??
Meu nome não me é dado lhes falar, pois jovens como vocês certamente sequer saberiam pronunciá-lo. Vejo, porém, que estão felizes de estarem de volta à superfície. Podem me chamar apenas de Senhora.
- "Senhora", Senhora Senhora Senhora, estamos MUITO felizes de ter saído dessa espelunca. Eu lhe garanto com todo o alívio do meu ser que agora apreciaremos cada momento de nossas vidas hahahaha.
- Mesmo tendo deixado um pobre homem morrendo para trás?
- Hã? Wesley, Como essa velha sabe que tinha um homem lá dentro?
- Senhora, por acaso a senhora sabe algo sobre o homem que encontramos adormecido pela eternidade dentro desta imundíssima caverna?
- Jovens, infelizmente não posso me aproximar de vocês. Eu já sou muito velha e a luz do sol já não colore a minha pele como a sua. A minha pele, sob o sol, apenas queima e queima, até ficar em carne viva. Mas creio eu que posso lhes contar uma história. Cheguem mais perto…
- Caralho mano, que velha bizarra. Vamos embora.
- Peraí Robson. Precisamos escutá-la. Ela sabe de alguma coisa sobre o homem que encontramos na caverna.
Um dia a filha de um homem muito poderoso nesta cidade se apaixonou perdidamente por um boêmio artista de rua, que angariava moedas em seu chapéu de couro defumado tocando um violoncelo velho em frente a pontos turísticos e nas festas da cidade.
Ocorre que a filha desse grande homem, uma bela jovem chamada "Melissanthi", estava sendo prometida, sem que soubesse, para ser mulher de outro homem. Esse homem, chamado Carlos, era um exímio promotor de justiça, que na época era conhecido por sua beleza descomunal e por ser dotado de um audaz gênio investigativo. Todos os casos difíceis e sem solução eram entregues nas suas mãos. E Carlos obtinha sempre as respostas, não deixava nada em aberto, nunca.
Porém, todas essas qualidades de nada importava para a jovem Melissanthi, que fugia com seu boêmio amante para a Caverna onde vocês estavam. Isso foi há muito tempo, eu ainda era bonita!
O casal de amantes se encontrava por lá todas as noites em que havia grandes festas na cidade. Com isso, depois de angariar suas moedas, o boêmio artista ia até a caverna ter com sua amada os louros da noite. Até que um dia...
- O que? O que aconteceu?
Hahahah, um dia o boêmio deixou a amante ensandecida de ciúmes por não ter se encontrado com ela. A verdade é que ele estava ainda se atracando com outra, bebendo e se deleitando na maior festa da cidade, enquanto sua amada o esperava na caverna, escondida da família e do próprio pai. O promotor de justiça, porém, deu falta da jovem, que lhe fora apresentada por seu pai naquele ano - um ano de muita prosperidade para todas as famílias da elite.
O Promotor também já havia reparado que antes, Melissanthi sempre chegava maltrapilha nas festas, e se perguntava por que uma bela jovem, tão ao léu, não se arrumava para os eventos importantes de seu pai.
Naquele dia, as horas avançavam, a noite caía em silêncio e o promotor ainda não tinha visto a jovem. Ele então decidiu procurá-la, sabendo que a caverna era ponto de encontro de jovens boêmios, uma gente perdida que não fazia nada da vida a não ser se deleitar em pequenas aventuras e prazeres proibidos. O promotor intuía que Melissanthi estava sofrendo com essas influências. E por isso decidiu logo investigar o caso… na caverna.
Ao chegar lá, ouviu a jovem ensandecida. Como poderia ter aquilo acontecido?? Ela se perguntava, atordoada, já que não havia visto seu amante em hora nenhuma daquela noite. Andava de um lado e para o outro, se lamuriando, quando Carlos, o promotor, foi ao seu encontro, guiando-se apenas pelo som de sua trêmula voz. Ele então a reteve e disse:
“Vamos embora.”
Naquele momento, com apenas o toque das mãos de Carlos em seus finos braços, Melissanthi se apaixonou como nunca havia se apaixonado antes em toda a sua vida. Nunca sentiu tanta segurança e tal firmeza vinda de um homem, que atravessou os lugares mais inóspitos da cidade para encontrá-la.
- O futuro porém, lhes aguardava uma tragédia.
- Vem cá Robson, senta aí, eu quero saber o que acontece.
- Acho que eu vou vomitar Wesley. Senhora, que tragédia foi essa??
O boêmio artista, bêbado, volta da cidade todo estrupiado, com sua mente derretida em álcool. Foi até a caverna pois lembrou-se de sua amante num momento de lucidez e queria ter com ela para gastar o restante de insanidade que lhe restara naquela noite, não lhe faltando nem eira nem beira de sem-vergonhice para achar que Melissanthi ainda o desejaria naquele estado.
Mesmo bêbado, o boêmio sabia se movimentar por cada ala da caverna, reconhecendo as paredes das grutas e o som do córrego que guiou vocês jovens até a saída.
Ao chegar no meio da caverna, ele encontra sua amante com o promotor de justiça. Começa uma discussão. Quem é esse cara?? Quem é esse cara?? Ele gritava como um bêbado, tentando enxergar no breu da caverna. E a jovem apenas chorava como uma criança, não querendo largar de mãos o homem que acabara de a resgatar.
Nunca que um boêmio bêbado desses poderia amedrontar Carlos. Entretanto, a imprudência do promotor, preocupado mais em acalentar a jovem do que lidar com o bêbado, o fez baixar a guarda:
O bêbado lhe roubou a arma do coldre em sua cintura, e enquanto discutiam, saiu atirando por todos os lados tentando matar Carlos e Melissanthi, que fugiram sem saber onde estava a saída, indo para mais a fundo da caverna.
- Meu deus, então o que houve senhora??
Numa noite de lua cheia como aquela, as festas iam até muito mais tarde, quase ao raiar do sol. O pai de Melissanthi deu falta de sua presença nos primeiros ares do dia, e nos quatro cantos do salão cochichavam que o melhor promotor da cidade havia saído da festa, preocupado, a procura da jovem.
A polícia foi acionada. Procuraram por toda a caverna mas nem mesmo seus corpos foram encontrados. A caverna era conhecida por ter muitas armadilhas criadas pelos próprios jovens que a frequentavam, a fim de dificultar sua entrada e tornar aquele um lugar mais... reservado.
E mesmo com todas as armadilhas desativadas, cães de caça a procura de vestígios da jovem e do promotor, nada foi encontrado.
Irado, seu Pai resolveu demolir todas as entradas da caverna. E desde então nunca mais entrou ou saiu ninguém dali. É por isso que novamente eu lhes pergunto:
- Como vocês saíram da caverna?
- Peraí, então quer dizer que você é a ...
- explica aí Robson, que eu não entendi foi porra...
- não precisam entender. Eu apenas deixarei vocês exatamente onde nos encontramos.
~fiu~
- ROBSON, O QUE TÁ ACONTECENDO?? ESTÁVAMOS LÁ FORA, DEBAIXO DA ÁRVORE, CONVERSANDO COM A VELHA E AGORA ESTAMOS NA CAVERNA DE NOVO.
- Wesley... Wesley... escuta...
- AAAAH!! CADÊ VOCÊ AMIGO???
- Não vamos sair daqui nunca. Estamos na morada dela agora.
- Querida, tem alguém aí?
- Não há ninguém meu amado Carlos. Só mais um monte de bêbados, tentando nos amedrontar. Onde está sua arma?
- Depois de tanto tempo, finalmente a encontrei, estava jogada bem perto daqui... tocando-a com meus pés, senti o tambor, o buraco do cano, a orelha. Era meu fiel três-oitão! Onde estão esses bêbados meu amor?
- Ali em cima querido. Me dê um beijo.
~muac~
- Te amo, meu amor. Irei cuidar deles pra você.
- Faça isso, por favor. Você sabe que eu odeio esperar.
- Oh, e como eu sei.
~fsssss clec clec clec~
- NÃO, POR FAVOR, NÃO ATIRE EM MIM. ROBSON, CADÊ VOCÊ??
- ssshhh... Seu amigo está dormindo. Respirando pesado. Assim como você estará, agora mesmo.
~POW! POW! POW!~
Fim.
Ok. Eu confesso que essa parte levou mais tempo pra ser publicada do que eu gostaria. Foi a minha primeira vez escrevendo algo nesse estilo e eu enrolei bastante pra terminar. Mas como hoje é terça-feira de lua cheia e eu não poderia deixar passar essa data… pela conveniência do roteiro hehe.
Mais uma semana (e uma história) pra conta. Até semana que vem!
Que suspense nesse final em. Muito bom!