Poucos dias são mais anacrônicos e flexíveis que os domingos, por mais que boa parte das pessoas não atente pra isso. A monotonia geral do dia faz com que ele passe rápido (ou extremamente devagar).
O domingo substitui a sexta para o comerciante, o gerente e o plantonista que não acorda para trabalhar na segunda.
O domingo substitui o sábado para quem trouxe todas as suas atividades institucionais até o dia anterior do fim de semana - sejam elas o expediente, a aula de francês ou suas vendas de quitutes.
E o domingo substitui a segunda para quem, depois de um sábado de descanso, se vê obrigado a abrir as portas mais cedo, a cuidar diligências com prazos excepcionais, e procurar boletos vincendos no próximo dia útil.
Enfim. O ponto aqui está claro.
O domingo e seu espectro irradiam por toda a semana, sobre cada pessoa que o percebe de maneira diferente.
Alguns vêem apenas metade de seu brilho, ao acordarem sempre meio-dia. Outros perduram desde cedo, amaldiçoados com o cérebro que conclui “meu humano não tem nada pra fazer hoje, por isso mesmo o dormi muito bem ontem e o acordei sozinho às seis horas da manhã.”
Mas a noite de domingo, em especial, reserva calada uma “generalidade”. Estamos todos portentosos pelo dia de amanhã. Expectativas novas são criadas semanalmente. O domingo, como ápice dos nossos dias mais banais, reserva em sua noite dor, alegrias, tristezas e contentamento.
Não a toa o Fantástico, que é um dos maiores programas de TV do país, passa à noite - depois de uma longa tarde de programas insosos e jogos de futebol. Se por ventura depois de ver TV insurge em você uma insônia, saiba que ela foi estratégicamente posicionada. Isso porque se abre uma janela vaga na mente depois da distração e do entretenimento.
Daí que, noutro giro, planos, viagens e sonhos são namorados em noites abafadas de domingo. E até que se sinta o extremo sono, não largamos a mão dos nossos idílicos pares, quer estejamos felizes nesse relacionamento ou não.
Mensageamos amigos e pessoas a princípio incontactáveis. Mas que ficam livres aos domingos. Vemos um filme que em qualquer outro dia não teríamos humor (ou melancolia) pra ver e ficamos presos naquela realidade cinematográfica até a hora de dormir.
Atrasamos o jantar e pedimos comida daquele restaurante barato que logo logo fecha, às dez horas.
Tudo isso são percalços, contrapontos e oportunidades que só a noite de domingo proporciona. E eu espero que você, ao ler isso em qualquer outro dia da semana, lembre-se que logo logo o domingo irá chegar, e depois do churrasco, da soneca pós-almoço, do trabalho, da depressão de seis horas da tarde e do plantão, vem a sua noite. Belíssima noite de domingo.
Façamos ela valer a pena.
Falando ainda sobre tempo, incrível como abril passou rápido e eu só fiz uma publicação aqui esse mês. Inclusive esse texto parecia mais longo quando escrevi no meu caderno. Mas transcrevê-lo foi um ótimo exercício de decodificação de palavras feias e frases rabiscadas. O próximo post não será prosa, eu espero… mas até lá: