E se
eu parasse de estudar
fosse viver
em outro lugar
Procurasse um Tamanduá
e pedisse para ele me levar
Embora da cidade,
desse país
Fôssemos juntos
para o oceano
E lá aprendêssemos
novos ofícios, novos ramos
Conquistássemos ilhas
não descobertas ainda pelo homem
Encontrássemos pilhas
de areais, terras e conchas
Encontrássemos também os restos fossilizados
de outra espécie, que não o homem
(nem a mulher)
Aí veríamos
só então aí veríamos
Que eu e Tamanduá
abandonamos tudo e todos
para descobrir que nunca estivemos sozinhos
mas até então não tínhamos nos aprofundado
em achar o ouro dos tolos
o tesouro dos loucos
as joias da desmemória
Voltaríamos ao nosso país
mais ricos que o presidente
Compraríamos suas roupas
e declararíamo-nos os novos Presidente e Vice
Seríamos banhados em louro
aclamados pelo povo
O jovem e o Tamanduá
que descobriram Atlântida de novo!
Nota importante:
Não raramente o ocasional leitor e leitora do Mantenotas se engana ao pensar que este site está atolado de textos tristes, meio cabisbaixos com a vida.
Muito pelo contrário, na verdade, é que são esses textos meras vírgulas na deliciosa sopa de letrinhas de alegrias que é a minha vida.
Num mundo cada vez mais Instagramável, a atitude positiva 24h/dia, 7 dias/semana, causa um desgaste gigantesco no cérebro, no corpo e na alma. Dor, angústia, sofrimento e vazio existencial são sentimentos diários tanto quanto gratidão, amor, solidariedade e prazer.
Esquecer disso é como esquecer que pra comer é preciso sentir fome e pra dormir é preciso sentir sono. Ser feliz requer uma pitada de tristeza com a situação do mundo e outras coisas que não podemos mudar.
Felicidade, porém, é a minha natureza. Mesmo puto, triste, e cansado, no fundo do poço - o meu é bem raso - tem um trampolim.
Armaram ele lá embaixo antes de eu nascer.
E graças a esse privilégio eu posso ver pessoas caindo no meu poço, e fazê-las pular antes de morrerem.
Posso eu mesmo pular antes de morrer.
E aí eu lembro que posso mudar bastante coisa sim. Basta querer.
- Mauro, 10.11.2023.