Imagem - pt. 1
Das coisas boas e doces que eu ouvi
saindo de tua boca
eu ouvi
eu ouvi outro dia
as chaves do universo girando
e deslizando pela roupa
pela tua roupa de se deitar
tua pele de linho
q'eu vivia por amassar
Rolhas de vinho
estouramos a cada verso
perplexos,
doutos,
ríamos como senhores...
Imagem - pt. 2
E pela porta te vejo sair
como sonhar nos fez desistir
e o espaço das roupas entre a pele
tornou-se o espaço de mensagens entre as telas
O espaço das conversas entre os risos
encolheu-se nos confins de pensamentos vazios
Quem me dera esquecer tudo
só para te beijar outra primeira vez
Quem tocasse teu rosto, juro
era eu o homem mais feliz do mundo!
Imagem - pt. 3
Pela sorte que te trouxe a mim
o mesmo azar levou-te daqui
E dos ramos das figueiras de alabastro
queimou-se pelo terceiro carnaval a nossa páscoa
Um fiasco não,
o melhor fiasco que já participei
Ou arrependo-me de nada
Ou arrependo-me de vez.
Imagem - pt. 4
Receosos de sofrer
nascemos à pequena morte
juntos, mas separados
litisconsortes.
Teus cabelos nos meus pés,
minha fé no teu coração
e as bocas...
tão distantes,
diletantes,
diálogos com as mãos.
Durmo nos aconchegos dos afagos da tua alma
Chegas de manhã cedo pela saudade que me escapa
Temos a lua cheia,
o sol nascente
e um par de asas
em brasa
de desejos
tortuosos e inocentes.
Mente que entrementes
ao canto da garganta
que geme enquanto espanca,
que dói, mas não se acanha
Fecho teus olhos nos meus
e tua face fica clara
Rubros de negro conto,
nem como anjos
seríamos santos.
Apenas Deuses
de joia rara
esculpiriam nosso quebranto -
a imagem que te torna cara
é a de Pégasus em um relâmpago.
Descendo a mim, alada,
à cavalgada,
doce vinho de risonho canto…
Alguns poemas não precisam de final. Mas janeiro sim. Vem fevereiro, vamos pular carnaval. Até lá: