Via de Sono
No desbalanço da mente,
o fogo do coração esconde um segredo.
Tudo se alinha girando,
girando e alinhando seus medos.
Sou como a sorte divorciada do destino,
sou como um sopro desnorteado
que não se sabe da onde vem…
nem se sabe qual o fim…
Em vias de dormir
o sono abate pesadelos
- ideias fúteis
palavras-barulho -
Acendo uma vela:
“navegue marujo”
Meus guias estão sempre putos,
mas os amo mais que tudo.
Quando eu vencer isso aqui
ali e acolá festejarão comigo -
Os anseios superados,
os abraços bem furtados,
os beijos roubados,
os choros gritados, calados e soprados
- a alma e espírito, corpo e mente,
vivos de fato.
[Sábado, 01º de julho de 2023]
O que somos?
Somos menos que o átomo
das moléculas mais inconstantes
do nosso corpo.
Mas cuja soma dos espaços
é maior que o todo.
Meu contorno preenche o vazio do seu
e vice-versa...
Somos matéria e anti-matéria,
um nada, dividido por tudo…
desnudos, separados por nada.
[terça, 04 de julho de 2023]
Serviço Público
Ritmo lento
servidão pública
a mente afastada
suspensa
de prazeres não pudicos
Quisera eu
servir ao público
faria minha arte
e outras coisas inúteis
Como parar um país?
dê a ele vencimentos
subsídios
benefícios
adicionais
e nada de liberdade
mas se der, se der liberdade,
remeta com impostos…
[terça, 27 de junho de 2023]
Muros
Os muros de suas casas
são mais altos
e seus carros importados
só fazem barulho no asfalto
quando deslizam de um poste
a outro.
Suas roupas de grife
também vêm da china
e seus applewatch, smartwatch
iPhone 14, X, Z
pagam os mesmos impostos
que um xiaomi, motorola, samsung, LG.
Numa cidade onde
todo mundo é pastor, advogado e dentista
(e técnico em refrigeração)
vivemos no calor, desdentados, abandonados
pela lei e pela justiça divina.
[segunda, 20 de novembro de 2023]
Benditas preces
Nos altos e reveses,
nas idas e vindas,
temos na batalha,
a cura das messes
Nossa lírica partilha
é madeira pra fornalha,
cujas benditas preces,
nos aquecem da sina!
De não ter o que queremos ter
de pagar por aquilo que
recebemos de graça...
De um dia com nossos olhos poder
enxergar o futuro a mercê -
aí sim estaremos em casa.
[quarta, 07 de fevereiro de 2024]
Sina Compartilhada
A sina compartilhada
torna-se a mais leve das auguras
dos monges que meditam:
feliz é aquele que, mesmo sozinho,
sabe não ser único.
Entrementes visualizo
a dor dos meus irmãos,
dos meus amigos,
e inimigos,
Abraço-lhes
como se a dor fosse minha,
porque realmente é…
[23 de fevereiro de 2024, sexta]
Pira Cabeça
Pira
Pirado
Piração
de cabeça
Cabeça
cabe
cá
cá coça
coçando
coçando cabeção
pira cabeção
pirado
ração
piração cabe
pirando cabeção
cabeça pira, pirando coçassão!
[09 de fevereiro de 2024, sexta. Da vez que eu contraí Tinea Capitis comprando um boné usado no boteco de rua que fica ao final da Av. André Araújo. Custou 15 reais. Negoção.]
Preciso ser sincero com vocês, meus leitores e minhas leitoras: a história da Caverna tá exigindo mais neurônios de mim do que os que eu já vim com nessa vida de nascença. Então essa semana a publicação vai ser de poemas antigos até eu resolver pra onde vai essa história só em diálogos. Se você não leu A Caverna pt. 2 ainda, aqui estão a parte um e a parte dois.
Agradeço ao meu amigo Paulo Braz pela sugestão de transformar a história numa peça e, no geral, me deixar sabendo que o texto não ficou tão ruim como eu pensava. "Autoestima de artista" é a maior piada que já inventaram. Todo artista deveria ser muito orgulhoso da sua arte, mesmo que ela seja tão ruim quanto um gole de café em temperatura ambiente.
O desafio de uma publicação por semana toda terça ainda está de pé. Em frente!
Até semana que vem...
Muito foda, mo!