É isso aí… como diria algum músico famoso que eu não lembro o nome.
É isso aí, eu falhei.
Hoje não tem post planejado pro Mantenotas. Peguei uma virose aleatória essa semana, provavelmente vinda de ônibus lotado e salas de escritório fechadas, que me deixou arreado, com febre, cagando água saborizada de merda e sem muita criatividade para pensar em qualquer coisa além de simplesmente convalescer.
Até ontem eu já havia me recuperado, mas gastei toda as energias de ontem com outras coisas da vida além de escrever. O que me retorna o seguinte pensamento:
Que bom que eu falhei.
Não fosse isso, hoje seria mais um post de poemas aleatórios, ou uma história inventada em meia-hora, apenas para encher linguiça e “cumprir a meta”. Bem, a nossa vida já consiste em cumprir várias metas, então eu pretendo a partir de hoje deixar esse espaço aqui mais vazio delas. E mais cheio de propósito.
Com propósito, eu quero dizer - não escrever só por escrever.
Veja bem, querido leitor e leitora. O Mantenotas existe desde 2021.
E desde então frequência, deadline, prazos, essas coisas nunca existiram no Mantenotas. Houveram meses a fio em que eu só não publiquei nada nesse site. Porque não havia o que publicar. E agora, olhando para trás, eu gosto bastante dessa sinceridade.
Métrica. Algoritmo. Número. Leitores. Visualizações. Taxas. Se você já administrou qualquer coisa na internet, inclusive perfis pessoais, sabe que temos acesso a tudo isso. E importa? “Nope”. Não importa. Eu gosto de pensar que escrevo para pessoas, não números. E meus textos são lidos por pessoas e não por taxas de abertura.
Logo, hoje, reconhecendo a falha, vamos criar alguma coisa dela. Venha comigo.
A jornada é mais importante que o destino… se você souber para onde está indo
Algumas pessoas diriam que o processo de realizar algo é mais importante do que a realização em si. Aquela velha máxima de jornada>destino. Certamente que essas pessoas nunca estiveram num trem a caminho de nada. Eu poderia ficar horas aqui escrevendo coisa com coisa, mas saberia o resultado final de algo escrito sem fim algum - um dicionário. Minto, uma sopa de palavras.
O dicionário pelo menos tenta se explicar.
Muitas vezes eu embarquei em jornadas que não me levaram a lugar algum. Eu aprendi coisas durante elas? Com certeza!
Mas poderiam ter sido aulas online.
A jornada é mais importante que o destino quando nós sabemos para onde queremos ir, ou estamos tentando descobrir. Ir para qualquer lugar só por ir é a mesma coisa que pegar um ônibus aleatório e parar num fim de linha no meio de um bairro qualquer com pessoas que você não conhece. Eu sei disso porque antes da virose eu estava fazendo exatamente isso.
Nesse dia…
… ao descer do ônibus eu passeei pelas ruas de todas as zonas: azuis, verdes, vermelhas, roxas, se-você-pisar-aqui-você-morre-marinhos, e ao entender onde eu estava eu percebi que tudo que eu queria era apenas uma praça e um lugar pra sentar e conversar. Quem sabe jogar bola.
Imperiosamente, porém, só haviam ruas, prédios, comércios, comércios, carros, calçadas, calçadas altas, calçadas baixas, igreja, salão de beleza, óticas, oficina, oficina de carro, oficina de moto, oficina de desmanche, pátio de delegacia de onde vem os carros pro desmanche, escolas etc etc etc.
Me senti no trabalho.
Então dei meia volta e fui em busca de outro lugar. Andei horas a fio, a tarde toda, conversei com as pessoas na rua, nos ônibus e voltei para casa. Não achei minha praça. Nem um lugar pra jogar bola.
Porém, ter embarcado na jornada me fez entender o que eu queria. Nesse dia específico eu queria apenas me sentir parte de algo.
Não é esse o motivo principal pelo qual as pessoas embarcam em jornadas aleatórias? Para se sentir fazendo parte de algo…
Todos os movimentos, cultos, grupos de apoio, trabalho voluntário, baseiam-se nessa premissa. Fazer as pessoas se sentirem parte de algo. E eu precisava naquele dia sentir que estava fazendo parte da minha cidade. Porque céus, a TV fala dela todo dia. A rádio também. E as pessoas ainda assim não se olham nos olhos para falar dela. Para falar com ela.
Manaus, o tabu do manauara.
Aqui as pessoas também falham, pensei.
Olhando nos seus olhos (imagine alguém que você gosta fazendo exatamente isso agora mesmo), o que você acha que as pessoas veem?
Dor, agonia, paz, alegria, ou tristeza?
Eu realmente não sei.
Destino < Jornada
Agora que eu terminei de mentir, vamos desfazer o argumento.
A jornada é obviamente mais importante que o destino.
Se soubéssemos para onde estamos indo a cada passo dado, seríamos um carro que se autodirige, e não pessoas. O sabor da vida está em não saber de nada e quando achar que sabe, descobrir que sabe menos ainda. Isso vale inclusive para os lugares aonde pretendemos ir.
Tente mirar seu pensamento para uma localidade específica e verá que nem a sua mente consegue reproduzir com perfeição um lugar que só existe na sua cabeça. Nós temos fatos e boatos como bússolas nesse mundo, e o destino é no máximo uma estrela guia. A jornada é o caminho. E como caminho, ela não acaba nunca.
Pense no destino como intervalos. Contemple a impermanência, como diriam os budistas. A cada parada, uma pausa. Para se regozijar ou se agoniar de ter chegado lá.
Eu vejo a vida como uma série de jornadas, com vários destinos. Alguns estenderam a estrada sem mim, outros eu caminho enquanto desvio de mais outros.
Na realidade, estamos traçando nossa trama. Nossos dramas, nossos medos. Com a ideia, onírica, de que sabemos para onde estamos indo. Sabemos o nosso destino.
Não sabemos. É impossível.
O que resta fazer?
Planejar. Decidir. Executar. E improvisar no meio do caminho.
Esse texto todo foi um grande improviso.
A ideia era falar alguma coisa legal sobre falhas. Mas acabei entrando um pouquinho demais nos detalhes da minha vida diária… e desembocamos na contraargumentação de um argumento que eu não acredito.
Obrigado faculdade de Direito, eu acho…
Agora uma tarefa de casa
Bem, se você leu até aqui não vou lhe deixar de mãos abanando.
Para sentir que de fato valeu sua jornada até este site, vou lhe deixar uma tarefa de casa.
Olhando nos seus olhos (imagine alguém que você gosta fazendo exatamente isso agora mesmo), o que você acha que as pessoas veem?
Dor, agonia, paz, alegria, ou tristeza?
Eu realmente não sei.
Mas quando eu me olho no espelho, eu não vejo alguém que sabe de tudo como eu imagino que as pessoas imaginam de mim quando estou andando na rua, ou trabalhando, ou fazendo qualquer outra coisa. Eu sei (mais ou menos) onde estão minhas falhas, mas se me pedissem para apontá-las com o dedo talvez eu errasse o alvo. Deus me livre então, se me pedissem, que eu as descrevesse…
Logo, se você não sabe, essa pessoa que você gosta, talvez saiba menos ainda. Ela tem uma ideia de você. Um conceito. Uma imagem. Mas não é você.
Agora, podemos ser um pouco mais científicos e perguntar (eu também irei fazer esse exercício nesta semana, calma):
“O que você vê de errado em mim?”
“Onde você acha que estou falhando?”
A questão de perguntar isso pra alguém que você gosta é que, dependendo do tipo de pessoa que você gosta, a resposta pode ser ou muito distante da realidade (e você vai perceber isso na hora) ou sincera demais para aceitar de imediato (o que você também vai perceber na hora).
Ambas as possibilidades são boas.
Porque aí teremos algo para trabalhar além das nossas próprias palavras.
Teremos nossas falhas, nítidas e bem à nossa frente, se apenas soubermos aproveitar a jornada.
Até semana que vem,
~ Mauro
A tal da música é “É isso aí” e é do Seu Jorge com a Ana Carolina. Bem que eu imaginei um baixo e uma contralto cantando. É isso aí mesmo…
Me lembrou da sua jornada a Tepequém