Não há o que se falar em sono no trabalho, mas todos sentem. Numa aula, todos sentem. Numa conversa entediante, todos sentem. É o sinal número um de que se algo não eleva seu espírito, o põe para baixo. Analogamente a isso, ou você está caindo em tentação ou está caindo de sono. Os dois não dá.
Vejamos assim, então:
O sono é um direito. É até mesmo o dever dependendo da profissão. Um vigia noturno deve ter sono durante o dia, um atleta deve ter sono de 22 às seis, um estudante deve ter sono a caminho de casa, do trabalho, e da escola.
O sono é um direito como qualquer outro, então por que cultivamos tão pouco do nosso? E o defendemos menos ainda…
Na CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas, A Famosa) não tem um artigo ou capítulo específico sobre sono, mas até onde eu me lembre tem sobre intervalo intrajornada, descanso semanal remunerado e outras vagarosidades que abordam indiretamente a importância do repouso.
Esse "repouso" é tratado pela lei de forma vaga, porque a ideia é que se a pessoa não está trabalhando, cumprindo sua jornada de trabalho, ela então estaria repousando...
Mas sabemos que a realidade não é assim.
Basta ver a quantidade de preocupação na mente das pessoas no fim do ano, perto do natal, e no começo do ano, durante o pontapé inicial das resoluções de ano novo.
Mesmo de férias, as pessoas não estão em repouso. E muito menos com sono.
If you can’t tell what you desperately need it’s probably sleep.
~ Kevin Kelly, Excellent Advice for Living
Tradução livre: “Se você não consegue dizer o que você mais desesperadamente precisa, provavelmente é de sono.”
Algum velho jurista muito sábio, cujo nome não me recordo agora, disse que se um direito não está expressamente legislado, logo ele não existe. Não é porque você não é proibido de dormir, que você tem o direito ao sono, deu pra entender?
Se pareceu meio confuso pra você, saiba que isso talvez seja uma aula de filosofia do direito, do segundo período da faculdade, durante a qual eu provavelmente estava dormindo e agora estou tentando explicar com as minhas próprias palavras...
Saindo da área jurídica, outro dia li no SupermemoGuru.com, escrito pelo cientista Piotr Wozniak, um artigo no qual ele defende que o sono, sim, o direito de dormir bem e ter uma sonequinha, uma sesta depois do almoço e longas noites restauradoras, deveria ser um direito humano1.
Contraste isso com o conselho que eu ouvi de alguns professores do ensino médio, os quais falavam que deveríamos fazer de tudo pra estudar o máximo possível, principalmente em semana de provas, praticando o famigerado cramming2, mesmo que isso signifique dormir quatro da manhã e acordar às seis pra ir à escola...
Que Deus me perdoe, mas que conselho canalha.
Nada é melhor do que tirar uma boa e leve sonequinha. Dormir bem antes de acordar pra ir trabalhar. E melhor do que isso, dormir com quem você ama.
O sono é o melhor remédio para um sem-número de doenças e males mentais. Então por que o levamos tão pouco a sério? Essa é uma pergunta elementar.
Eu diria que a ansiedade por dias melhores e mais fáceis nos faz ficar acordados nas férias. Trabalhando durante o nosso tão precioso repouso. Enquanto no trabalho estamos cansados e tentamos dormir para compensar a falta de civilidade com si próprio. Talvez essa primeira pessoa do plural não faça sentido para muitos leitores, que têm noites regulares de sono, como os preferidos filhos de Deus que são.
Infelizmente, esse não é o meu caso. Eu demoro a pegar no sono e quando eu pego, eu geralmente levanto de madrugada com algum fantasma puxando meu pé ou com uma parada ao toalete pra tirar água do joelho…
Aqui vai uma dica:
Experimente cultivar com seu amado ou amada o hábito de falar não só sobre o sono de vocês, como também os sonhos, de vez em quando, quando vos vier a cabeça falar sobre eles. E não raramente perceberão que uma noite boa de sono é uma noite de sonhos3. Por mais que alguns sejam pesadelos, ou esquisitos, ou confusos demais para tirar algum sentido imediato das cenas...
O sono nos faz sonhar. E se estamos o tempo todo em alerta, mas nunca acordados, estamos dormindo, enquanto nossos sonhos ficam pro sono bem dormido que nunca temos.
Se esse último parágrafo ficou confuso é porque já são quase 10 horas da noite e eu estou com sono.
Por isso, estou indo dormir. E você?
Boa noite.
~ Mauro
Piotr Wozniak é o criador do método de aprendizado “Sistema de repetição espaçada” e do método de leitura incremental - basicamente, um cara bem mais científico do que eu e aqui ele fala sobre como a privação de sono é um dos principais motivos de: acidentes de trânsito, falha na prestação de serviços, tragédias ambientais, dificuldade de aprendizado de crianças e adolescentes na escola, e outro leque de desgraças que só uma sociedade viciada em estímulos poderia gerar.
Eu não vou encher esse ensaio de referências porque não quero tornar o Mantenotas insuportavelmente acadêmico. Mas basta pesquisar "cramming" no Google e verificar por si mesmo que foi assim que você passou na maioria das suas provas da escola e faculdade. Fonte? Muitas vezes são as vozes...
Obrigado Caren, a mulher que lê “O Homem e seus Símbolos” pra mim jurando que eu tenho capacidade de entender Carl Jung…
Dia 95 de janeiro. Quatro semanas postando todas as terças-feiras sem falha. Consistência. Chegaram a me mandar mensagem no zap perguntando cadê a publicação de hoje… aqui está. Semana que vem vejo vocês de novo! Até lá:
Eu? Eu estou honrando meu descompromisso com o sono regular e, portanto, continuarei acordada. Parabéns pela consistência, Mauro.